quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O homem-mochila

Curiosas figuras que circulam por nossas cidades portando um acessório denominado "mochila". De várias cores e estilos adapta-se com facilidade às costas e ombros. Não importa a idade. Hoje, é comum em qualquer ser humano.
Quando é de vários tons é provável que quem a carregue seja um jovem estudante. Se for escura e discreta, talvez um executivo ou quem não queira aparecer. O problema que acarreta é o mesmo.
Dizem os especialistas que provoca dor nas costas, desvio de coluna, deformações, etc. Concordo com eles. Não uso, muito embora achando prático o acessório, desdenho sua portabilidade.
Chamei de homem-mochila porque a peça se incorporou ao físico humano. Por incrível que pareça, acho eu, que quem as usa, ainda não conseguiu resolver sua visão espacial e particularmente o espaço que utiliza, e os limites que esse espaço impõe em relação ao espaço alheio.
Entram nos ônibus, elevadores, metrô e em qualquer lugar, definitivamente desengonçados. No elevador por exemplo: quando se viram é "natural" que atropelem alguém com esta nova parte do corpo humano. E como não se dão conta, as desculpas ficam em segundo plano.
Não que sejam mal-educados. Claro que não! Ainda não entenderam que o corpo cresceu, e cresceu em grandes proporções com a novidade.
Os corpos-mochila são de vários tamanhos. Um verdadeiro espanto. Grandes, gigantes, pequenos e médios. O indivíduo portador dessa mutação social ditada pela moda, ignora completamente os não-portadores-de-mochila.
Pobres coitados, nós que não aderimos ao nouveau-style.
- "Eu esbarrei em você? perguntou um rapaz outro dia.
- Sim, esbarrou.
- Desculpe, disse ele. Uma raridade de comportamento!
O homem-mochila é irmão da mulher-bolsa-à-tiracolo, do homem-Ipod e do homem-que-grita-no-celular.
Outro dia no metrô, pelo menos 15 cidadãos-mochila estavam reunidos. Estudantes, suponho. Como se batiam com as mochilas. Obviamente não percebiam. Abriram uma clareira no vagão, pois quem se atreveria aproximar. Poderia sufocar naquele mar de mochilas coloridas.
Sinal dos tempos? E como são pesadas.
Uma sobrinha de 10 anos carregava uma com pelo menos 10 kg, totalmente satisfeita. A mãe recentemente comprou uma com rodinhas. Ledo engano e vã tentativa.
Não rolou, mesmo com rodinhas.
A esperança dos não-usuários é a certeza que essa parte do corpo humano é descartável. Pode-se tirar que não fará a menor falta. Ou será que vai fazer.
Os usuários defendem o acessório afirmando que é boa a coisa, principalmente para a escola e viagens. É definitivo, segundo eles!
Ao olhar para dentro do artefato encontramos de tudo um pouco. O homem-mochila carrega com prazer, cadernos, livros, CD´s, roupas, canetas, celulares, escova-de-dentes, etc.
Ah! Também a indefectível mamadeira de água, suco ou energético, pois o homem-mochila também é homem-mamadeira. Deu sede – uns goles e pronto; não importa o local. Pode ser numa recepção de consulado ou uma "rave" na floresta. É prático o objeto.
Pode ser que com o tempo, senhor da razão e do bom senso, a espécie migre para outra novidade menos incômoda.
Talvez fique para o homem-mochila a desagradável sensação de efeito Kirliam, como quem perde um braço, e dê saudades da parte perdida.
Nada que psicólogos de plantão não possam resolver. Teremos então a terapia da mochila-perdida, das terapias-de-perda dos celulares, Ipod´s e mamadeiras.
É viver, ver e crer.

Aloysio Clemente M. I. de J. Breves Beiler – setembro/2007
Rio de Janeiro, RJ.
História do Café no Brasil Imperial - brevescafe.net

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