sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Jornalismo brasileiro e suas indagações... A tragédia carioca.

Qual é a sensação de estar soterrado? Como você está se sentindo? Você nasceu de novo?

A tragédia que se abateu sobre a cidade do Rio de Janeiro com o desabamento de três prédios provoca algumas indagações, além da consternação e dor dos sobreviventes e das famílias que ainda aguardam notícias dos desaparecidos.
As indagações são as de praxe em casos semelhantes: os motivos para o desabamento de três imóveis de grandes dimensões, os responsáveis pelo sinistro e as providências para que não ocorra novamente.
Entretanto, passando os olhos pelo noticiário ficamos perplexos com a falta de experiência, profissionalismo e pertinência das questões levantadas pelos repórteres das emissoras de TV.
O título do artigo é uma pequena parcela das insanidades cometidas pelos jornalistas. Como alguém pode perguntar sobre como se sentiu um indivíduo que foi soterrado por um prédio de 20 andares, e ainda não satisfeito, olhando para o cidadão ferido em estado de choque, querer saber detalhes. Não há resposta para essa pergunta.
As notícias também são incorretas e atrapalhadas. Um repórter trocando as palavras diz que caíram 3 corpos quando na verdade são 3 prédios. Outro diz que foram retirados 9 corpos e que acabaram de localizar mais três. Portanto, explica o despreparado: Então temos, o décimo, o décimo primeiro e o décimo segundo. Somos ignorantes sem dúvida! Não sabemos contar e efetuar um simples exercício de soma.
Mais adiante ele, do estúdio de TV, quer saber do repórter que está no local, qual o sentimento dos bombeiros, se estão aflitos e que o tráfego aéreo foi suspenso e não diz o motivo da suspensão. Gratia plena! nossos bombeiros são preparados.
Trocando as bolas, pergunta um outro para um feliz sobrevivente se ele nascera de novo, e pasmem, se vai comemorar? Ora! diria eu, se não comemorar seria louco.
Um outro compara o entulho retirado a pedras vulcânicas e diz que o uso de máscaras é obrigatório e que ele havia retirado o artefato para fazer a edição e não comprometer a matéria. Pasmem! Ele para demonstrar que há poeira no ar, esfrega a máscara na câmera e cônscio de sua sabedoria afirma estar comprovado que existe poeira no ar.
O repórter esquece com relativa frequência que a mídia que está veiculando a notícia é visual. Fruto da ignorância e despreparo técnico ele tenta adicionar informações, como se a câmera não mostrasse. Todos nós conseguimos ver a poeira, o fogo, a correria, o trabalho das máquinas, e ouvir os sons desse cenário trágico.
Os psicólogos de plantão para atendimento às vítimas devem ter trabalho dobrado. Primeiro para tentar minorar o sofrimento da perda e angústia da espera, e segundo para tentar abafar as notícias estapafúrdias e desencontradas emitidas pelo jornalismo brasileiro.
Num momento de dor e consternação há que se ter muita cautela e prudência quanto às notícias veiculadas. Perguntas idiotas emitidas por despreparados, e outras que visem ao sensacionalismo devem ser banidas de nossa mídia especializada.
Colocar um jornalista de suposta "maior credibilidade" ou "fama" no local da tragédia também não ajuda muito, se o indivíduo não tiver o sangue frio necessário para cobrir esse tipo de sinistro. Nem todos estão aptos para estar perto de uma tragédia: sons, cheiros, barulhos, poeira, fumaça e a possibilidade da tragédia se ampliar são fatores que necessitam de capacitação adequada. Bombeiros e polícia são um bom exemplo.
Jornalistas sérios e competentes existem aos milhares. Uma parcela ínfima, entretanto, aparece e estraga a TV aberta.
Queremos uma imprensa livre é bem verdade. Mas também queremos uma imprensa mais profissional e técnica.
Nossos sinceros sentimentos e orações para sobreviventes e famílias envolvidas no triste episódio.

Rio de Janeiro, 27 jan 2012.
Aloysio Clemente M I de J Breves Beiler
brevescafe.net